Rebecca Sugar e Noelle Stevenson: a importância da representatividade na animação

Rebecca Sugar e Noelle Stevenson, criadoras de 'Steven Universo' e 'She-Ra e as Princesas do Poder', respectivamente, discutem a importância da representatividade LGBTQI+ em desenhos animados.

Steven Universe Paved the Way for She-Ra's Queer Representation
Foto/Divulgação: Cartoon Network, Netflix

Steven Universe tornou-se amado entre o público jovem e adulto por abordar tópicos complexos e diferenciados, como saúde mental, família e tipos de relacionamentos, construindo rapidamente um enorme número de seguidores. Além disso, trouxe diversos conceitos que eram ainda desconhecidos na época, e que não costumavam ser abordados em cartoons desse tipo, como o fato das Gems serem não-binárias e de suas identidades e relacionamentos serem parte integrante do enredo, o que se nota pela fusão Garnet, que incorpora o relacionamento lésbico entre Rubi e Safira. A partir disso, Rebecca constrói um precedente com sua série animada.

Carregando a tocha, Noelle Stevenson procurou aproveitar o progresso feito por Sugar com sua própria adaptação de She-Ra para a Netflix. A animação segue a evolução das duas principais protagonistas, Adora e Catra, que passam de amigas de infância a inimigas, mas acabam admitindo seus sentimentos uma pela outra em um beijo climático que pode fazer derreter até  mesmo os corações mais frios. Assim como Steven Universe, She-Ra aborda uma ampla gama de tópicos que buscam representar os espectadores LGBTQI+.

Rebecca conta à PAPER que, quando trabalhava em Hora de Aventura, lançava mão de algumas estratégias para levar a representatividade LGBT ao desenho, pois a norma da época ainda era dura e restritiva. Ao começar a trabalhar em seu próprio desenho, ela encontrou na fusão uma maneira estratégica de explorar relacionamentos queer. Porém, quando Rubi e Safira são introduzidas como componentes de Garnet, Rebecca diz que o estúdio entendeu o que eles estavam tentando fazer, e chegou a dizer à equipe que eles não poderiam ter esse tipo relacionamento romântico. Mas como a personagem já estava estruturada no desenho, não havia o que ser feito.

"O show sobreviveu, em grande parte, graças ao apoio dos fãs. Em alguns momentos, cheguei a ficar mentalmente mal."

Ruby and Sapphire reuniting after Steven helps them escape. From the  episode Jailbreak | Steven universe, Steven, Canciones
Foto/Divulgação: Cartoon Network

Noelle, por sua vez, conta que a produção de She-Ra começou em 2016, após Steven Universe ter aberto as portas para a abordagem de relacionamentos LGBT+ em desenhos animados:

"Estávamos vendo o apoio dos fãs em Steven Universe, aí produzimos o episódio "Princess Prom", mas as eleições de 2016 assustaram todos, e então fomos obrigados a retroceder, pela empresa, ao tipo "seguro" de animação, sem romance. Mas usamos estratégias e a reação dos fãs para virar a maré a nosso favor.

[...] Não sabia que a sua equipe estava passando por isso, mas lutamos para construir uma estrutura para o show e colocar romances queer, algo que começou de forma sutil. Então, quando a primeira temporada estreou, recebemos um apoio esmagador dos fãs, que foi exatamente o que a empresa precisava ver para impulsionarmos a série."

She-ra and Catra, Princess Prom, She-ra 2018 | Princess of power, She ra  princess of power, She ra
Episódio "Princess Prom"
Foto/Divulgação: Netflix


Para Noelle, ainda que essa representação LGBT seja sutil, ela tem sua importância, pois faz com que essa comunidade se sinta aceita e compreendida. Além disso, isso ajuda até mesmo as crianças e jovens que não fazem parte dela a aprenderem que podem sim se relacionarem, no futuro, com quem elas quiserem, conta a criadora de She-Ra.

Rebecca diz ainda que está animada com as animações do futuro, agora que sua série ajudou a romper as barreiras do silêncio e da falta de representatividade, e que se sente honrada por fazer parte disso, pela persistência e trabalho de sua equipe. Noelle, em tom humorístico, diz que mil anos somente de conteúdo LGBT nos cartoons seria um bom começo.

Foto/Divulgação: Cartoon Network, Netflix

Ao longo da conversa, as duas discutem ainda sobre suas inspirações LGBT+ e sobre a relação dos fãs com ambas as séries, além da representação de gêneros e orientações que ainda hoje são "desconhecidas" para muitos.

Confira a entrevista completa aqui.
Red

Futuro jornalista que gosta de ler e escrever e é apaixonado por cartoons desde criança. Contato: @DiogoHems (Twitter)

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